quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Cinzas

"Todo dia um ninguém josé acorda já deitado. Todo dia, ainda de pé, o zé dorme acordado.  Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia. Toda trilha é andada com fé de quem crê no ditado de que o dia insiste em nascer... mas o dia insiste em nascer pra ver deitar o novo! 
 Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada. Toda bossa é nova e você não liga se é usada. Todo o carnaval tem seu fim... todo o carnaval tem seu fim... e é o fim... e é o fim.
 Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz! 
 Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco? Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco. Toda escolha é feita por quem acorda já deitado. Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado e pinta o estandarte de azul... e põe suas estrelas no azul... pra que mudar? 
Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz..." (Marcelo Camelo)
...
...
...
... e exatamente porque não sei por onde começar é que digo: 
- "It's over, baby"!

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Passifloraceae...


Beijo a flor, mas a flor que eu desejo eu não posso beijar... ai, amor... haja fogo, haja guerra, haja guerra, o que há... teu cheiro é o marinheiro do barco fantasma que vai me levar mundo inteiro... haja fogo, haja guerra, haja guerra, o que há: teu cheiro!” (Pepeu Gomes)



Guache e aquarela nas paredes dos pequenos artistas.  

Patchuli e rosas das mãos da velha senhora.

Aroma de cacau torrado dos verões em Ilhéus.

 

O mar da primeira prancha.

O hálito do primeiro beijo.

O vinho da primeira vez.

O suor do primeiro sexo.

O elixir do primeiro bêbado.

O fumo do primeiro louco.

O ar da primeira viagem.

O doce do primeiro amante.

O orvalho da primeira manhã.

O perfume do primeiro amor.

 

Bússola sem norte que acalma... a alma.

 

Canela.

Chocolate.

Baunilha.

Avelã.


Aquela camisa.

Meu travesseiro.

Sinto.
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*PS: imagem - flor de maracujá ( passiflora edulis)
 

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Essência...

"Se a música é o alimento do amor, toque." (Shakespeare)

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Absolutely adorable...



"Não quero "tentar" ser feliz
Eu quero o amor pronto
É por isso que antes de amar eu quero amizade.
Verdadeira.
Não quero alguém que não tenha passado pelas minhas desaventuras.
Eu já fui tudo nessa vida: anjo, demônio, mocinho, bandido, príncipe e carrasco.
Agora eu quero viver. E nada de zerar o cronômetro.
Eu quero começar é daqui mesmo, com muito ou pouco mas com o que tenho.
Quero alguém que não tenha exatamente o que me falta.
Pra apanharmos juntos do mundo.
Não quero ensinar mais nada.
Sozinho.
Quero começar amando e ganhando de 3x0
E não o 0x0 onde todo mundo erra.
Mesmas besteiras, mesmas bobagens, babaquices, ciúmes, tolices, desconfianças, incompatibilidade...
Não quero começar com os mesmos joguinhos e brincadeiras que já se foram.
Não quero amar como quem tem os dias contados
Odeio sofreguidão pelo que nem existe ainda
Eu quero um amor lento
Nascendo devagar... como toda arvore centenária que não nasce da noite pro dia.
...e com raízes profundas e firmes.
Que não se vá com o primeiro vento de tempestade.
Entenda tempestade como quiser.
Eu quero um amor certinho, ameno, divino
Um relógio.
Um robô.
Porque eu sobrevivi aos 30.
E não tenho mais pressa de amar"
( M. P.)

Noite de sábado... ponto com... ponto bê-érre.


No meio de mais de 20 milhões brasileiros, um ganha destaque aos meus olhos: canceriano, nordestino, solteiro, louco por futebol e pai apaixonado. Um homem que, de repente, entre um cigarro e outro, trouxe o coração às mãos e deixou que delas brotassem palavras que me fizeram pensar muito... e que, portanto, inspiram minha escrita neste momento.


Um dia alguém disse que os “homens são de Marte e as mulheres são de Vênus”. No momento em que isso aconteceu, jogaram-nos todos num balaio de vime, separados por uma placa de aço intransponível... e dividiram–nos por gêneros! Ou seja: todos os homens são iguais, todas as mulheres também e a principal causa do desentendimento dos casais é que o masculino e o feminino, definitivamente, são diferentes... e não falam a mesma língua!


A solução para isso é apenas uma: a integração dentro de cada indivíduo – independente de sua classificação de gênero - da razão (essencialmente masculina) com a intuição ( essencialmente feminina), da sensação ( masc.) com o sentimento( fem.), da objetividade com a subjetividade... enfim! E a partir desse equilíbrio interno, saber também reconhecer no outro suas necessidades primordiais e respeitá-las.


Há um bom tempo atrás, os homens se escondiam para lidar com suas características internas relacionadas ao comportamento feminino. E para as mulheres também era vergonhoso assumir atividades de caráter masculino, a partir de sua lógica.


Porém os tempos mudaram. Estamos em pleno século XXI e, enquanto as mulheres começaram a ganhar espaços maiores em setores mais representativos da sociedade, aprendemos a respeitar as lágrimas de um homem, afinal... “os brutos também amam”! 


Então porque - mesmo com toda consciência teórica sobre o assunto - eu me sinto tão tocada ao ver um homem expor seu coração dessa forma? A resposta mais rasa que provavelmente eu daria, sem pensar muito, é que sou apenas uma “romântica inverterada”. Não. Não é isso.


A verdade é que eu me emociono profundamente com o ser-humano, principalmente quando o percebo assim inteiro... dono de si... com toda sua razão e emoção à flor da pele, independente de gênero, “número e grau”.


Concluindo, segue aqui um recado pro meu mais novo amigo ( e também a quem mais possa interessar): fique tranquilo, o que é seu tá guardado...!!! Com certeza existe uma pessoa por aí, tão pronta quanto você, afim de viver essa forma de amor: SUBLIME! E então, esse dois “inteiros” quando se encontrarem... serão dois! INTEIROS!!! ( mesmo que a soma pareça resultar numa coisa só).


E tenho dito.


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* não sei onde foram feitas as imagens do vídeo acima... de toda forma, em 2006, conheci pessoalmente "Eusébia e Eustáquio" - o casal de lontras do Oceanário de Lisboa (PT). É o amoooorrrrr...!!!!!! :-)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Paulista "sangue bom"...


Onde Doar

Local:

Unidade Morumbi - 4º Andar, Bloco A

Horário:

Segunda a sexta-feira das 8:00 às 19:00 horas
Sábados das 8:00 às 17horas
Exceto feriados.
Estacionamento gratuito.

Fone: (11) 3747-1233

Fax: (11) 3747-0446

Email: bsangue@einstein.br



O que é preciso:


  • Idade entre 18 e 60 anos
  • Peso mínimo de 50 kg
  • Boas condições de saúde
  • Estar alimentado
  • Dormir pelo menos seis horas na última noite
  • Documento de identificação (R.G. ou equivalente)
  • Não ingerir bebida alcoólica nas últimas 12 horas
  • Respeitar o intervalo para doações: 60 dias para homens e 90 para mulheres

Não podem doar sangue:
  • Grávidas (a mulher deve esperar três meses depois do parto normal; em caso de cesariana, o intervalo aumenta para seis meses)
  • Quem teve doença de Chagas ou malária
  • Quem teve hepatite após 10 anos
  • Quem tem comportamento de risco para a aids (relações homessexuais, ou bissexuais, múltiplos parceiros, hábitos promíscuos, usar ou ter parceiros usuários de drogas ou tóxicos)
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* O Palhaço Comendador Nelson ( Nando Bolognesi) faz parte do grupo "Doutores da Alegria" desde 2001 e é palhaço-atleta do "Jogando no Quintal"

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Foto Antiga


"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces, porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. (...)

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face, teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu porque eu fui o grande íntimo da noite.(...)

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos, mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas... serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

( "Ausência" - Vinícius de Moraes)



Quando tudo era sépia, era inconstante.

Poema de Florbela Espanca cravado em meu peito.

Um amor a mentir, fugindo.

E o sol a se por. Todo dia.


Quando tudo era sépia, era esquecimento.

Céu de Londres no exílio do fundo do meu coração.

Via o sol a nascer, queimando.

E outro amor a chegar. Outro dia.


Quando tudo era sépia, era dor.

Canção de Maysa na rádio da minha cabeça.

O meu mundo a girar, caindo.

E eu crescendo a sofrer. Mais um dia.


Quando tudo era sépia, era antes.

Era ontem. Era.*

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* by me ( 2006)



domingo, 8 de fevereiro de 2009

Unfocused blues...


"O seu olhar lá fora, o seu olhar no céu... o seu olhar demora, o seu olhar no meu... o seu olhar, seu olhar melhora... melhora o meu." ( Arnaldo Antunes)

Seu olhar mudou esta manhã.

Tem um quê de não sei bem o que...

Vou te dar as férias necessárias.

Esconder espaços descobertos.

Reduzir o numero de planetas do sistema solar.

Pois tudo gira. Tudo é foco.

Desfoque tonto.


Sua voz mudou esta manhã.

Tem um som de não sei bem qual foi...

Vou deixar as rédeas imaginárias.

Correr por campos e desertos.

Resistir às leis e ao controle da força lunar.

Pois tudo é imã. Tudo é toque.

Desfoco. Tonta.*

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*by me.( 2006)



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Se alguém perguntar por mim...

"Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo." (Caio Fernando Abreu)

… pode dizer que fui por aí, levando duas malas e um violão embaixo do braço.


Eu saí pra estrada e são muitos os lugares pra ir (quero matar a vontade enquanto tenho saúde e idade). Preciso saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina... preciso aprender inglês. Preciso me ver de perto e ouvir aquela canção do Roberto. Preciso saber de mim.


Eu sou cigana. Vou andando sem pensar em voltar. Um dia eu volto, quem sabe? Tudo bem, meu bem... só quem já morreu na fogueira sabe o que é ser carvão. Conheço a dor e a delícia de ser o que sou. Respiro o prazer de ser quem eu sou. De estar onde estou. E ainda falta tanta coisa...! Por isso, se alguém perguntar, pode dizer que sim. Eu volto sim... mas só depois que eu matar essa saudade que venho sentindo de mim.


Viver, cantar, morrer, nascer... já sei do inferno das paixões. Já cheguei, já parti. Já não paro mais em qualquer esquina, nem entro em qualquer botequim. Não quero seguir definhando sol a sol. Já sei tanto e é claro que não sei de nada.


Quando eu choro é uma enchente. Quando eu amo, devoro todo o meu coração (odeio e adoro numa mesma oração). Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda: quando eu canto, quem não for meu irmão que se cuide! Eu sou assim: canto pra me mostrar. Faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã.


Eu estou por aí... meu sonho é ser imortal. Sou o recôncavo e o reconvexo, o avesso do avesso, a luz das estrelas, a sereia que dança, mutante... dona do dom que Deus me deu, dos meus ideais... mas se me der na telha sou capaz de enlouquecer e mandar tudo pr’aquele lugar! Aaaahhh... dentro de mim mora um anjo à la Sarita Montiél!!! E até que me provem o contrário, acredito em tudo... e nunca duvido da fé!


Não tenho medo. Celebro a chegada no eterno começo.


(*R.)

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* Texto criado por mim, a partir de algumas pérolas da mais pura música popular brasileira.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Odó Iyá...!



“Contam que toda tristeza que tem na Bahia nasceu de uns olhos morenos molhados de mar. Não sei se é conto de areia ou se é fantasia, que a luz da candeia alumia pra gente contar.


Um dia morena enfeitada de rosas e rendas abriu seu sorriso de moça e pediu pra dançar. A noite emprestou as estrelas bordadas de prata... e as águas de Amaralina eram gotas de luar...” (Conto de Areia – Romildo Bastos e Toninho)



Tudo começou em 1924, há 85 anos, um ano bem difícil pra quem sobrevivia do que o mar oferecia... e no desespero, minha gente, o melhor negócio é partir pro lado da fé! Por isso, os pescadores - ligados ao candomblé - fizeram uma promessa à Rainha das Àguas, protetora dos navegantes. Em “troca”, os peixes voltaram a aparecer. Bom... promessa é dívida, né? Desde então, todos os anos, eles levam suas oferendas à praia em sua homenagem.


Com o passar do tempo, mais gente foi chegando... devotos, ateus, católicos, curiosos, umbandistas, turistas... e sem qualificar a origem, classe ou crença, hoje o Rio Vermelho (bairro boêmio da cidade onde se localiza a colônia de pescadores) recebe desde cedo milhares de pessoas para uma das festas de maior expressão da cultura popular da Bahia: o dia de Iemanjá.


Mãe cujos filhos são peixes”. É o que significa Iemanjá (“yeyé omo ejá”). Rainha, Princesa ou Sereia do Mar. Inaê, Mucunã, Janaína... seja lá qual for seu nome, ele está diretamente conectado à energia das águas, principalmente as salgadas ( reza a lenda que Iemanjá chorou por seus filhos que partiram, e que o mar é salgado por suas lágrimas).


Aí, vc que está lendo isso agora e não tem a menor intimidade com o assunto, pode estar se perguntando: “afinal, que fascínio é esse ela exerce sobre tanta gente? Que ligação é essa com o mar, os rituais de passagem de ano, pular as sete ondas, oferecer flores e balaios com alfazema, presentes e espelhos?”.


Vou tentar explicar, ta?


Desde os primórdios da humanidade, sempre houve a necessidade da compreensão dos fenômenos da natureza. Através da interpretação da arte rupestre, percebemos que o que não se explicava era retratado nas paredes ( já que eles não sabiam escrever). Na Idade antiga, os egípcios e os gregos personificavam seus deuses, relacionando as forças naturais aos arquétipos da personalidade humana, com seus méritos e suas falhas. O tempo foi passando. Os celtas e druidas tinham sua magia , seu deus e sua deusa. O cristianismo tinha seu Deus único, o grande Pai, o Criador... fundamento primordial da igreja católica. E paralelo a tudo isso estavam as religiões indígenas, dentro das quais as africanas se incluem. Hmmm... já entendeu?


Ok. Imagine agora o Brasil, desse “tamanhão”, com um povo sendo formado pela mistura de raças e crenças que se deu com a chegada dos portugueses, holandeses e africanos... e judeus... e alemães... e orientais... e italianos... e... e... e... ( ufa!). Todos falando a mesma língua e respeitando-se mutuamente, mesmo que não concordem com visões religiosas que não sejam as próprias. E vou além: uma das coisas mais lindas da Bahia é o sincretismo. Além do respeito, todos sabem que estão celebrando a mesma qualidade de energia, só que estabelecem nomes diferentes pra isso. Simples assim.


Por coincidência, estou em Salvador. Acordei relativamente cedo, ao som da chuva forte dessa manhã e pensei: “hmmm... com chuva, não dá pra ir...”. Aproveitei pra ficar mais um tempo na cama, fazer meu daimoku, brincar com meu afilhado e resolver coisas pendentes. A chuva passou e um tempo depois o sol apareceu com toda força, trazendo um calor insuportável de mais de 30 graus. Mas já era quase meio-dia, e ficar torrando embaixo do sol, no meio de 300 mil pessoas, realmente não estava nos meus planos. Ainda mais quando fiquei sabendo que, ao lado dos ogãs com seu batuque, ia ter um trio-elétrico com banda de axé, pagode e sei-lá-mais-o-que!!!*² É... não tem jeito, não... toda celebração vira “bagaceira” por aqui. Qualquer coisa é motivo pra “enfiar o pé na jaca”!*²


... sagrado e profano o baiano é carnaval...


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* Depoimento de Tico Santa Cruz, vocalista da banda “Detonautas”, a respeito do seu contato breve, porém íntimo, com o jeto de ser mais puro do povo baiano: http://bloglog.globo.com/blog/blog.do?act=loadSite&id=288&postId=14095&permalink=true


*² Sim, nasci em Salvador. Mas como toda regra tem exceção, essa é uma delas. E mais: detesto pimenta! (Pronto. Falei.)