segunda-feira, 16 de março de 2009

CUMPLICIDADE...


"Abre os teus armários, eu estou a te esperar para ver deitar o sol sobre os teus braços castos. Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar e fazer do teu sorriso um abrigo.

Canta que é no canto que eu vou chegar...
canta o teu encanto que é pra me encantar... canta para mim, qualquer coisa assim sobre você!!! Que explique a minha paz... tristeza nunca mais!

Mais vale o meu pranto que esse canto em solidão,
nessa espera o mundo gira em linhas tortas. Abre essa janela, a primavera quer entrar pra fazer da nossa voz uma só nota.

Canto que é de canto que eu vou chegar...
canto e toco um tanto que é pra te encantar... canto para mim qualquer coisa assim sobre você!!! Que explique a minha paz... tristeza nunca mais...!!!
" (Marcelo Camelo)

Hoje, madrugada cumum do ano presente.


Prezado viajante,

Venho através destas linhas frias trazer notícias um pouco mais quentes. Vou te contar uma história que ouvi recentemente de uma velha feiticeira que habita a minha vila. Por tratar-se de um caso verídico, peço sigilo absoluto sobre o ocorrido. Sei que entenderás.


"Uma mulher e um homem estavam a navegar por mares perigosos, sobreviveram às fortes tormentas e encontraram-se ao acaso, frente a frente, na calmaria de uma primavera.

Latitude e longitude inexistentes, desconheciam em que ponto daquele imenso oceano estavam. A única coisa que eles sabiam era sobre o domínio das próprias embarcações e, por isso, não se arriscavam. Permaneciam trancados com as mãos no próprio leme, fitando-se um ao outro através do vidro reforçado de suas cabines.

Com o passar dos dias, estabeleceram um tipo de comunicação bem particular, uma linguagem única, reconhecendo-se em pequenos gestos, olhares e sorrisos. Criaram novos códigos e assim conviviam, viciados em si mesmos.

E era o tempo passando - o calor do verão chegando.
E era fome. Era a sede. Era o medo dos tubarões que eles nunca tinham visto.

Decidiram, através de um simples olhar, que o melhor a ser feito seria tentar reencontrar o ponto de onde haviam partido, cada qual no seu barco, pois assim sobreviveriam.

Seguiram então, firmes suas rotas tortas... em direção às terras do nunca mais."


Aquela senhora ainda tinha um pouco mais a dizer.

Ao olhar as minhas mãos, falou que em meu caminho surgiria um menino a me chamar, um moço a me tocar e um homem a me olhar, como um felídeo mira a sua presa; que os três se fundiriam em um só, a virar um titã. Este, então, envolto numa bruma com aroma de menta, me embriagaria com as águas claras da Rússia.

Fiquei inicialmente assustada e ela, percebendo meu espanto, completou dizendo que eu não me preocupasse... disse que eu saberia colocar bem os pingos nos seus "is" e, por vezes, também o deixaria sem pernas e palavras. E que sendo assim, assistiríamos o sol nascer a partir das músicas que cantaríamos, boca-a-boca, libertando-nos de nossas próprias armaduras.

Meu caro... sei que ainda temos muitos mares a navegar, mas preciso te dizer uma coisa: sem reconhecer seu cheiro, a partir desse instante, EU ME PROÍBO DE SENTIR A SUA FALTA - e ao mesmo tempo, só desejo que essa distância jamais nos leve para as "terras do nunca mais".

Agora, ao te escrever, compartilho essas confidências e faço de ti meu cúmplice.

Um beijo meu.

Nenhum comentário: